É muito comum as pessoas chegarem ao consultório, quase sempre preocupadas, pois descobriram que há algum problema com as suas safenas.
A primeira coisa que digo para elas, no entanto, é para terem calma. A safena não é lá esse monstro não. Invistam alguns minutos no texto que vocês entenderão.
Primeiro, precisamos entender o que são as veias e suas funções?
Já dissemos que as veias são vasos responsáveis por devolver o sangue ao coração. Juntas, formam o sistema circulatório venoso. Este é dividido em superficial e profundo. As veias que estão no interior da perna, entre os músculos e próximas dos ossos, são as profundas. Estas são as grandes responsáveis por transportar o sangue e seus constituintes de volta ao coração .i
O sistema venoso superficial é composto por várias veias que se situam na pele e no tecido subcutâneo (nossa capinha gordurosa). Quando estas veias se dilatam, são chamadas de varizes. A maioria não têm nome. Porém, temos algumas, muito famosas, que despertam a atenção, e às vezes palpitação em todos: as veias safenas.
E a Veia Safena?
A veia safena magna se localiza na face interna da perna e coxa, desde o tornozelo até a virilha. A safena parva se localiza na região posterior da perna, entre o tornozelo e a região posterior do joelho – também chamada de cavo poplíteo. Como são superficiais, não são realmente essenciais para o retorno venoso na maioria das pessoas. Caso sejam removidas, não haverá prejuízo na devolução do sangue ao coração. Além disso, apresentam um bom calibre, são compridas, principalmente a magna, e, estando próximas da pele, de certa forma tranquilo de serem retiradas.
Estas características foram observadas por outros cirurgiões há bons anos. Estes perceberam que as veias safenas poderiam ser retiradas e utilizadas para restaurar a circulação em outros locais do corpo sem prejuízo ou danos às pernas.
E o que essa veia safena tem a ver com o coração?
As artérias coronárias são as responsáveis por irrigar o coração. Quando obstruem, podem causar o infarto. Naquela época, a veia safena permitiu reestabelecer o fluxo sanguíneo para as artérias coronárias nos pacientes com infarto, salvando vidas. Daí a razão da sua fama.
E por isso, quando ouvimos falar de safenas, inconscientemente podemos as associar ao infarto do coração, doença que pode ser grave ou mesmo fatal. Mas vejam bem, as safenas não causam nenhum infarto. Estão nas pernas, bem longe inclusive. Mas podem ser uma opção no tratamento dos pacientes com obstrução de artérias do coração ou mesmo de inúmeros outros órgãos.
Então, qual a relação das veias safenas com as varizes?
As veias safenas são longas e se conectam com muitas veias superficiais. Os pacientes com predisposição a varizes tem as veias menos elásticas, mais fracas. Este é o motivo que as levam a se dilatar. As veias safenas também podem ser fracas nos indivíduos com tendência a doença venosa. Quando se dilatam perdem a capacidade de devolver o sangue ao coração.
O fluxo do sangue nas veias safenas, portanto, se inverte, isto é, ao invés de ir para o coração, se direcionam ao pé. Este é o famoso refluxo – fluxo em direção contrária ao que se esperaria.
Este sangue que não retorna se acumula no membro inferior e ainda reflui para outras veias superficiais. Estas, também sendo frágeis, se tornam varizes. Pelo que vimos então, a safena com refluxo pode gerar mais varizes, além dos sintomas de peso, cansaço entre outros.
Mas, então: preciso operar a safena ou não?
A veia safena pode ter refluxo por todo o seu segmento ou apenas por uma parte Quanto mais extenso o refluxo principalmente quando estão presentes na coxa, maior a chance de causar sintomas. No entanto, operar apenas porque a safena está alterada no duplex não é a melhor opção.
Mais que dados isolados de exames, o que você sente, assim como onde estão as suas varizes e o que você deseja com o tratamento são os fatores que devem ser avaliados ao se escolher o seu tratamento.
E se eu de fato precisar operar a safena?
O procedimento mais comum e com melhores resultados para tratar a safena é a sua retirada ou oclusão. Esta pode ser feita pela cirurgia convencional, pelo uso de energia térmica ou mesmo com espuma. Existem cirurgias que propõem preservar as safenas. Podem ser utilizadas em pacientes selecionados porém acarretam maior chance de se tornarem doentes novamente.
Em Resumo:
Vemos que a safena doente não é indicação automática de cirurgia. Que a cirurgia deve atender aos objetivos do paciente, com exceção dos pacientes com doença venosa grave, a opção por operar deve ser compartilhada entre o paciente e o cirurgião. Isto permite fazermos as melhores escolhas, de forma a termos pernas bonitas, leves e confortáveis.